glossário do esquema conceitual do possível serdual - certezas ontológicas

Certezas Ontológicas

“O facto é que temos, na realidade, uma vaga noção do que existe no Universo, e uma suspeita certeza de que haverá como descobrir mais, no amanhã, pois o amanhã é ele próprio uma outra suspeita oriunda da certeza indutiva. E a isso chamamos de todo, como sujeito, e o eternizamos e universalizamos, predicativamente, antes mesmo que possa a vir ocorrer. O Universo é somente aquilo que conhecemos e que supomos existir, são as certezas ontológicas com o acréscimo de nossas crenças e desejos, vontades e intenções. Tudo representado metafisicamente em nossa mente por algo transcendente que parece ordenar o caos, e nada mais para além disso. Somos, em última instância, torcedores do time do amanhã e devotos das nossas origens desconhecidas.

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Devotos são antecipadamente crentes, e é isso que acabamos por nos tornar por não sabermos mesmo se houve um tempo zero, original, inicial, ou se nunca houve isso. Mas, admitimos que sim, que o Universo tenha surgido como a Teoria do Big Bang descreve, e que há mais de treze bilhões de anos uma singularidade “expandiu-se” e deu origem ao tempo e ao espaço. E continua a se expandir mais lentamente e que, no futuro, poderá voltar a se contrair, para uma nova singularidade. Não há certezas sobre esta teoria e provavelmente nunca as teremos enquanto vivos (e nem depois de mortos, obviamente).

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Talvez daqui há centenas de anos, a induzir que lá chegaremos enquanto suposta humanidade, estes escritos aqui possam ser utilizados em shows de humor. A debocharem da nossa selvageria intelectual sobre nossas origens, até porque terão conhecimento das novas fotos cósmicas para além das que temos. Ou provavelmente terão já hologramas reais do Big Bang ou similar e saberão “tudo” sobre o passado, com exatidão. Mas não poderão rir sobre os adjetivos e as qualidades que derivam destas instabilidades e incertezas temporais que temos hoje, pois elas também existirão no “futuro”.

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Eis o ponto: tudo o que deriva de questões ontológicas incertas sobre o passado, por algum processo complexo, passa a ser subvertido e atribuído como qualidades estáveis e certeiras em relação ao futuro. Mas, a certeza do passado não iliba a incerteza sobre o futuro. É uma projeção desconexa. O futuro será tão perturbador quanto hoje, ou talvez mais ainda, pelo que virá do conhecimento a ser adquirido como, eventualmente, a certeza de um fim que hoje desprezamos ocorrer.

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E é sobre este emaranhado conceitual das certezas ontológicas que a maior parte da Filosofia vem se fundamentando. Para provar o conhecimento particular do presente e do futuro em questões universais supostamente estáveis e certeiras. Enquanto nosso próprio Universo nem é estável nem certeiro, ao menos ainda. Quer-se dar uma predicação topo de gama a um sujeito que pouco conhece dele próprio. Que não sabe de onde veio e nem se estará por aqui em breve.

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Mas, há a fé, e talvez isto seja o verdadeiro problema e o maior dos entraves. Estas questões dadas como incertas, para os devotos pensadores presos pela fé à estrutura existencial e intelectual, são devastadoras. Seus pesadelos ocorrem com questões assim: como uma qualidade dita universal pode ser considerada estável se o Universo é ele próprio instável? Como podemos estabelecer uma ordem conceitual consistente dentro do caos da imprevisibilidade?”  (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XIII)

Certezas Ontológicas: Conteúdo Protegido.

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