glossário do esquema conceitual do possível serdual - diferença

Diferença

“Mas há quem diga que a excessiva oferta de produtos não seja algo mal-intencionado feito como uma maléfica provocação para os humanos consumirem sem limites. Não pensam que seja do “mal”, mas sim do “bem”. Dizem que toda a excessiva oferta surge como resultante do progresso capitalista pelos benéficos efeitos das mãos invisíveis do mercado[1] que criam concorrentes progressistas que tornam os produtos mais acessíveis; e isso leva à multiplicidade, que leva à personalização, que produz as excessivas ofertas que servem para atender à própria individualidade, em que tudo pode ser customizado até se chegar muito próximo do que cada um espera de um produto, ou de um bem, e fará com que este, ao consumir, se saciará e será feliz, ainda que por instantes, e daí a pluralidade existe para atender os desejos de todos. São argumentos otimistas que ouvimos, costumeiramente, a expor a diferença.

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É como se tudo fosse produzido para alguém específico, não mais para um público-alvo, mas sim para um indivíduo-alvo, para saciar um certo gosto restrito. É o fetiche não só pela mercadoria, mas pelo gourmet, pelo vintage, pelo exclusivo, pelo customizado. Estrutura-se a individualidade através da produção de massa – pois já concluímos que a individualidade virou também um produto, anteriormente. É mesmo isso. Pois, se alguém tem algo exclusivo, deveria ser uma condição que um outro não poderia ter o mesmo.

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Mas, este antigo exclusivo, caro e inacessível, foi repaginado, atualmente. E passou a ser possível a quem não o poderia ter e, assim, justifica-se a multiplicidade da oferta em incontáveis versões diferenciadas, pois dentro delas se encontrará algo que sempre será o “exclusivo” para alguém, visto que tudo é uma versão de tudo, o obsoleto se torna exclusivo, daí o desejo especial pelo vintage, pelo original que o tempo não permite que seja confundido com algo mais novo. O sistema oferece a solução até para o que não deveria haver solução, como a exclusividade, em que o valor está mesmo nisto, na exclusividade, e na impossibilidade de replicar o que não poderia ser replicado.

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Pois, ao buscar a compreensão por tal coisa, não se deveria ignorar que humanos são movimentados justamente pela diferença entre si e os outros, ou entre sua vida interior subjetiva e sua vida exterior objetiva. A diferença é o motor que faz movimentar aquele que a percebe em si, em relação a algo ou a alguém, e que busca sair de um estado de potência para atingir um estado de realização, para se estar em ato, realizado ou a realizar-se, em que exista a saciedade alcançável de toda a sua potência que aspira estar realizada no ato que é capaz de produzir – um ato é uma ação contínua, estabelecida, realizada e em curso.

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Se alguém acredita que tem potencial de ser um grande ator, fará de tudo para transformar este potencial em ato e obter um papel de destaque para si. Pois este “destaque” é a própria diferença de algo em relação a outro algo. E o desejo vem dela e direciona para ela, para a diferença. Da potência ao ato é a jornada comum ao indivíduo, dentro de cada perspetiva, e o gatilho começa pela perceção da diferença.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. VIII)

[1] Pois até mesmo a única mão invisível original deu lugar às novas versões, mais atualizadas e customizadas. Por que seria diferente com ela? Principalmente com ela, que proporciona a oferta e provoca o progresso?

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