glossário do esquema conceitual do possível serdual - estrutura

Estrutura

“A vida se dá na estrutura. Se existe alguma dualidade, tão duramente combatida pelos contemporâneos monistas, então há uma essência, ou alma, ou substância, ou uma mente separada, seja lá o que for, mas apesar da existência de uma eventual dualidade, será somente a estrutura o hub, o meio, o acesso, a manifestação possível da consciência constituída para a existência. Assim, haver ou não um dualismo, eleita uma das brigas filosóficas mais ferrenhas desde o cogito cartesiano, perde a relevância, pois passamos a ter a relevância da estrutura como prioritária. E todo o valor constituído como tal, maioritariamente, deve sempre levar em conta a estrutura. A estrutura será, assim, um quase-todo, que é um “todo” dentro de cada perspetiva.

A estrutura, aqui, assume uma conceituação diferenciada da tradicional, como já deve ter sido percebido, mas nem tão distante assim. Percebemos que muitos filósofos já se referiram linguisticamente a esta forma de organização, sem citá-la, abertamente. Ultimamente, ela tem sido relegada aos porões da Filosofia, já com bastante poeira sobre si. Mas as formas das relações do que é a existência não nos deveria deixar insensíveis às formas de constituições e organizações de tudo o que há, de tudo o que existe, desde as formações estruturais das combinações dos elementos químicos até as nossas relações sociais, tais quais todas as nossas organizações. Os autores sabiam, e ainda sabem, percebem, mas não explicitam, talvez pela esperança da universalidade exterior e superior.

E a relevância da estrutura é tão forte e evidente que Nietzsche fundamentou seu trabalho filosófico a partir do máximo valor de tudo o que representa a vida estrutural, ao defender todos os valores imanentes, toda a potência de uma vida que precisa ser vivida, com vontade máxima, tragicamente, a aceitar tudo o que há nesta estrutura, mas sem nunca prescindir de qualquer imanência em nome de qualquer transcendência, herança clara que absorveu de Espinoza, em que a estrutura (se pensarmos na relação entre deus e a natureza) é tanto o que afeta, quanto é afetada.

Desta herança de forçar a transcendentalidade, de aspirar a uma vida santificada e distante da estrutura que suga a tudo e a todos para ela, surgiu o último homem nietzschiano, vazio, transcendente, eminente, niilista, impotente frente ao ideal do além do homem, este sim completo, imanente e totalmente dotado da vontade de potência. O além do homem não vive uma vida, ele é a própria vida, com todo o seu esplendor e exuberância.

Vive a tal ponto que tudo o que faz, não o faz como dever, pois não lhe interessa o dever moral, e atá despreza isto, mas o faz por um valor imanente, de viver o instante como se fosse ali a eternidade que, caso se repetisse infinitamente, ele estaria pleno de si, estaria realizado. É a justaposição do homem em relação à estrutura, pois enquanto o último homem é alguém absorvido pela estrutura a sonhar sair dela, o além do homem se vê como a própria estrutura, e busca ser mais forte do que ela, e absorvê-la, em si, por completo, ao ascender por todos os caminhos que o levarão ao topo.

E por isso, é preciso perceber, historicamente, como o conceito de estrutura foi concebido e percebido. E, assim, podemos destacar quatro fases bem distintas, pois o que estará em causa, agora, é que a soma das partes nunca alcança a totalidade. Sempre há algo mais, impercetível, e é sobre isto que aparece o algo mais que estamos a buscar…”

“E o sujeito passa a acreditar que, assim, ao cumprir o que está estabelecido pelas regras, eliminará todos os riscos existentes e decidirá se comprometer ao máximo com a estrutura, sem sequer perceber o que este compromisso significará, exatamente, pois tudo ainda lhe é completamente ignorado, mas lá está, como se passasse a existir uma comunicação telepática, ou mediúnica, completamente inconsciente, em que o indivíduo é possuído por este espírito que irá lhe impor o que se deseja que se faça, simbioticamente, mas de forma sutil e disfarçada, sem infringir o que os representantes determinarem, a dirigir sua atenção e os objetivos de suas ações sem que este consiga resistir ou aceder à sua própria força de vontade e à própria autoconsciência, que fica muito comprometida pela incapacidade de perceção ampla que esta exige. Fica obsidiado. E viverá assim, até algum dia, ou para sempre, enquanto viver.”

“E isto espelha o que é uma estrutura, em linhas gerais no aspeto da motivação, pela sua faceta transcendental, política, mística, a oferecer cargos e posições em que cultuam uma forma organizada de vida coletiva, sejam religiões, comunidades, países, empresas, famílias, etc. Tudo segue um padrão em que há uma versão atribuída a este espírito diretor, com representantes, eleitos ou autoproclamados, que falam por ele, e que, a partir de certas condições, passam a ser o próprio, quando os espíritos dos deuses passam a serem considerados vivos entre os simples mortais.

E é exatamente por isso que a democracia ateniense foi tão combatida, e completamente extinta na era cristã, pois era estruturalmente contrária aos privilégios ao considerar a igualdade de todos. A pseudodemocracia que ressurgiu, dois milênios depois, já não era mais a mesma e só foi viável depois de considerar espaços para os representantes, ainda presentes, se não na estrutura, como elementos agregados que ainda possuem imenso poder sobre todos, sejam governantes ou governados. Mas, o espírito existe, ainda, muito mais forte e poderoso, a despeito de seus representantes.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XII)

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