glossário do esquema conceitual do possível serdual - imagens

Imagens

“Não são possibilidades, então. O que tenho disponível como escolha, para mim, desta forma, são apenas as oportunidades – as imagens. A função do gadget é limitada às oportunidades, comumente. Mas, ainda assim, o que percebo dele a operar são possibilidades – o que vem da TV para mim me dá a certeza de que são as próprias possibilidades, em pessoa. E essa é a sua “mágica”. Pois, em certa medida, o gadget deixa de existir e passa a existir apenas a TV, que é minha relação com a realidade, a ocorrer, ou com o tablet, que é minha interface com a TV.

Ao assistir a um filme, estou no devir e, com isso, lá estão as possibilidades, oriundas das oportunidades ofertadas e me faz perceber que é o gadget que me está a oferecer tudo isso. Transcendentalmente, e não somente a responder uma demanda criada por mim mesmo e configurada para ser desta forma. A mente passa a considerar o meio como o fim, e nisso há a subversão, a partir do relacionamento que travo com o próprio filme e tudo o mais que há interligado a ele e a mim.

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O curioso é que o gadget opera tal qual foi projetado para fazer. O valor atribuído a ele é de minha responsabilidade, a partir dos resultados causados em mim. E assim começo a considerar que ele seja racional, ou melhor, smart, a oferecer o máximo que podemos aspirar. Possibilidades; como se todo o universo passasse a estar disponível para ser apreendido através dele. E passo a considerá-lo como um portal místico, ou talvez quântico, que dá acesso a tudo a nível “universal”. E também por isso custam tão caro, pois possuem um alto valor agregado pela sua funcionalidade!

Mas, não esqueçamos. Ele não produziu nada, nem produzirá, e todo o processo foi feito por mim, no tablet, ainda que isso tenha sido feito apenas pelos filtros ou pelas perspetivas limitadoras dele. Pelas aplicações que ele possui instaladas em seu sistema que passam a ser uma espécie de restrição imposta para mim, ao me oferecer apenas as oportunidades que existem, mas com as condições dele, pela ação das regras existentes, e das predicações ordenadoras.

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Ele se relaciona comigo ao impor suas condições, suas imagens, e é por isso também que passa a ser um replicador das regras. É preciso perceber também que o filme é uma representação de uma realidade ocorrida no passado na qual foi apreendida. Não é mais o real. Pois o real se dá no devir, na atualidade do instante em que se testemunha o ambiente no qual a história está a ser contada. Assim, esta história passará a fazer parte da própria realidade de quem a assiste. Por isso, há uma transferência de valores, de conteúdos e predicados, quando as oportunidades passam a serem vistas como possibilidades, e os meios são vistos como fins.

Quando a escrita foi inventada, mudamos a nossa forma de gerir nossos conteúdos mentais, que foram transferidos para o papel, outra invenção, e puderam ser compartilhados. O papel, assim, apenas “armazena” um conteúdo que é uma representação do que alguém pensou, na realidade dela, no passado. E passou a ser representado textualmente como forma de registo, pela escrita. Tal como o faço, neste momento, a escrever o que penso e que, certamente, logo estarei a esquecer exatamente o que escrevi. Mas poderei aceder aos escritos e perceber que lá estão as representações do que pensei em algum momento da minha vida. Você, neste seu momento, está a aceder ao que pensei, e escrevi, agora já no meu passado.

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São representações de conteúdos, imagens, mas que estão na sua realidade, e assim passará a considerar que este livro possa ter algum valor para você. Ou não. Mas não será o livro, pois este também é este um gadget que não possui nada, nem produziu nada, mas apenas dá acesso a algo. Agora fica mais fácil perceber por que dizemos equivocadamente: “aquele livro é excelente!”.

E isto tem exatamente a indevida atribuição qualitativa ao livro, ao objeto, e não ao conteúdo, ou melhor ainda, a quem o escreveu, a partir de uma representação caligráfica que fez de uma realidade vivida ou imaginada. Não é o livro que é bom, mas leva a fama de sê-lo. Da mesma forma, o espírito leva a fama de ser o detentor das possibilidades, mesmo sem tê-las, pois, ele é apenas um tipo diferenciado de gadget a nos orientar nas representações já produzidas.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XV)

Imagens: Conteúdo Protegido.

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