glossário do esquema conceitual do possível serdual - intencionalidade

Intencionalidade

As discussões prosseguiram, sempre a exaltar a racionalidade humana como diferencial existencial. Até que o filósofo alemão Franz Brentano (1838-1917) propusesse[1] que o conceito do conhecimento fosse a inexistência intencional (intencionalidade), em que o sujeito “conhece” cada objeto apenas em sua mente, primordialmente. Os objetos não seriam, então, coisas materiais, necessariamente, mas sim o que há na mente. Que contenham conteúdos de informações, intencionais, que são direcionamentos aos objetos, que até podem ser uma coisa, mas não necessariamente. Ou seja, conhecer viraria uma relação entre sujeito e objeto, com a gestão do próprio sujeito.

Por exemplo, você está a ler este texto em um livro ou em um dispositivo eletrônico, por exemplo, e estes objetos são coisas, mas possuem um conteúdo que os determinam como são, em sua mente. Mas não necessariamente, pois você pode conhecer sobre algo que “seja algo” sem que este algo exista, como no clássico exemplo do unicórnio, um dos fetiches epistemológicos prediletos da Filosofia do Conhecimento. Mas é bom perceber que o seu dispositivo nem sempre existiu como coisa, mas talvez tenha tido uma existência prévia como conteúdo.

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O cofundador da Apple, Steve Jobs (1955-2011), primeiramente estava consciente acerca do tablet em sua mente, ou melhor, intencionalmente, como um computador digital de tela plana e sensível ao toque. E isto antes que se consubstancializasse em um produto que fosse ao mesmo tempo um computador, navegador de internet, acesso ilimitado às músicas e filmes e livros digitais. Depois desta existência mental, e muitos milhões de dólares, veio o processo de desenvolvimento e produção, pela Apple. Até se chegar a um protótipo que fosse possível de ser manipulado e aprovado como o produto idealizado, o resultante de uma intencionalidade, tal e qual. O protótipo aprovado já era o iPad. A seguir, apenas seria necessário reproduzi-lo em escala industrial e comercial o que era a “coisa” iPad. E dar-se-ia o fenómeno, como suposto, e como acontecido.

Jobs tinha consciência do todo (prévia, intencional) e conhecimento das partes (sobre cada função, separadamente), sobre tudo o que viria a ser o iPad, antes mesmo de o iPad existir como coisa. Mas ele, ou não, apenas a equipe de criação da Apple, ficou tão consciente de tudo o que seria o iPad. E de forma tão única e consolidada, que abriu uma nova dimensão ontológica para os tablets ao integrar tudo em um único dispositivo, de forma tão diferenciada, em que as partes deixaram de existir isoladamente para dar lugar a um todo, que deixou de ser apenas visto através de suas partes.

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Depois, todos os consumidores tiveram a mesma consciência e conhecimento acerca do que resultou. Passaram a atribuir um imenso valor às funcionalidades que vieram intrínsecas ao conceito do iPad, com suas imensas possibilidades. Enfim, a conhecê-lo como um todo. Se algum dia, algum unicórnio for “produzido”, geneticamente modificado e biologicamente reproduzido, será um processo similar ao iPad. E tudo começa sempre de forma germinal com e como algumas possibilidades: a matéria-prima valiosa da criação.

Portanto, se há a intenção, há a existência na mente, que é o que importa, mesmo que na realidade o objeto não exista como coisa. Poderá vir a surgir, ou não. E isso, algo aparentemente simples, agora, resultou em uma nova revolução filosófica. O discípulo de Brentano, o filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), avançou com a sua fenomenologia. feita com base irrefutável do conceito de intencionalidade. (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. IV)


[1] Brentano, Franz. Psychology from an Empirical Standpoint. Tradução de A. C. Rancurello, D. B. Terrell, L. L. McAlister. Introdução de Peter Simons. Londres: Routledge, 1995.

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