glossário do esquema conceitual do possível serdual - linguagem

Linguagem

Dentre tantos conceitos que deixaram de ser “impossíveis” e passaram a ser decretados possíveis, mesmo que nem sequer possam existir, como no caso da própria universalidade. Mas isso só se deu pela eficiente ação do espírito obsessor, e apenas por interesse próprio ao alegar para si próprio uma universalidade ilusória, mas que lhe assegura a mais abrangente forma de poder representativo e legitimador com todos os melhores atributos “possíveis”: onisciência, onipresença e onipotência. Por isso, a universalidade é indiretamente a mais maquiavélica de todas as impossibilidades, até agora, que fique claro, a atingir um nível mesmo pornográfico, de tão obscena que passou a ser. E a linguagem é a cola, mas também é um resultado.

Eis a forma do pensamento contemporâneo neoliberal que dá vida a algo totalmente incoerente, capaz de transpor conceitos da impossibilidade real dos inexistentes para a produção de produtos que incorporem uma pós-possibilidade irreal dos já existentes. Será o projeto do pós-humano o melhor exemplo. E, como se percebe, todos os que estão sob o jugo desta obsessão coletiva passam a trabalhar para fazer valer o que passou a ser o novo possível.

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Talvez seja por isso, ou o que o valha, que Friedrich Nietzsche escreveu[1], em suas anotações, mas que não foram publicadas, que «não há factos, só há interpretações», ainda hegelianamente, e que os pós-modernistas, em especial os franceses, dentre eles o filósofo argelino Jacques Derrida (1930 – 2004), levaram à risca a possibilidade de, não declaradamente, de limitar os Universos às possibilidades textuais. Assim, um texto sempre passa a ser lido com alguma prévia intenção do leitor, e uma atitude deste se fará necessária, ainda que seja a caridade intelectual, pela necessidade de dar crédito ao que virá ser exposto nesta universalidade textual, para além do seu preconceito já presente.

Os franceses chegaram muito próximo de questionarem a universalidade, em si, mas não o fizeram de todo, mas em equivalência, pelo que entendemos que a linguagem organiza o mundo como o conhecemos e, por isso, ao dar a esta linguagem uma sub-dimensão universal, em relação ao absoluto, mas ao mesmo tempo uma universalidade possível de ser formada a partir dela, tal qual opera a obsessão. Seria a linguagem, talvez, a própria perspetiva, ou ao menos uma delas.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XIV)


[1] «Que o valor do mundo está em nossa interpretação (…) O mundo, que em algo nos importa, é falso, ou seja, não é nenhum facto, mas uma composição e arredondamento   sobre uma magra soma de observações. O mundo é ‘em fluxo’, como algo que vem a ser, como uma falsidade que sempre novamente se desloca, que jamais se aproxima da verdade – pois não existe nenhuma verdade”». Poderá saber mais no artigo de Vania Dutra de Azevedo, A interpretação em Nietzsche: perspectivas instintuais, no linkhttps://periodicos.unifesp.br/index.php/cniet/article/view/7856.

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