glossário do esquema conceitual do possível serdual - MetaFilosofia

Metafilosofia

“Eminentemente, a mente humana busca sempre por respostas ou por perguntas, mas quase nunca por ambas, simultaneamente, pois o saber é desafiador, e a cada pergunta respondida, novas questões são realizadas e, assim, estas acabam sempre por serem mais valorizadas enquanto ainda não respondidas, e as atenções seguem quase todas para elas. O filósofo devoto, assim, pensa que sua função messiânica é resolver problemas ao encontrar respostas que a rigor nunca foram encontradas nestes últimos três milênios por todos os filósofos que por cá já passaram, e muito pouco de MetaFilosofia fizemos.

Mas os devotos continuam a buscar respostas para além de suas tacanhas capacidades, quando o exercício mais frutífero de elaborar novas e mais relevantes questões deveria ser sempre o mais importante para ele, visto que nem todas as formas organizadas de conhecimentos científicos são capazes de formular questões tão boas quanto a Filosofia, mas a maior parte das Ciências consegue resolver o que a Filosofia colocou ou coloca em causa, mais cedo ou mais tarde. A Filosofia tem vocação para ser a loba má da história, mas querem-na como imaculada cordeira. Eis, por exemplo, a relevância da Filosofia para as Neurociências, ainda atualmente a elaborar novas questões que apenas estas serão capazes de elucidar em laboratórios, mas não a Filosofia, pois esta se limita ao campo conceitual ou teórico, e sempre fora dos laboratórios.

Em linhas gerais, por não se conseguir responder sobre o futuro, sobre algo que ainda não aconteceu, pergunta-se mais abertamente pelo passado, como se este ficasse a martelar a mente humana para completar os buracos existentes na linha do tempo existencial imaginada como linear.”  (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XIII)

“Causa e efeito sempre foram os maiores fetiches para os analíticos. E, a esta altura, não seria imprudente fazermos uma autoanálise providencial.

Pois não houve nada de muito novo, afinal, em tudo o que foi dito, até aqui, e que consistiu apenas em um arranjo diferenciado e com novas interconexões referenciais na busca de uma fluidez que é geralmente evitada, principalmente pelos fetichistas da causalidade: os filósofos mais analíticos. Ainda que estes não consigam perceber bem o motivo de serem assim – fetichistas analíticos – é certo que algo lhes ocorreu quando decidiram silenciosamente pelo abandono dos sistemas filosóficos em detrimento de uma simplicidade causal impossível de se atingir. E isto foi e é ainda muito estranho, ainda mais quando tudo no mundo está cada vez mais integrado estruturalmente, com a vida a fluir à mesma velocidade dos gigabits, a Filosofia Contemporânea passou a evitar tal veloz conexão da fibra e foi buscar apenas as partes fragmentadas de alguma coisa conectada ainda via telex, fax ou no máximo modem com linha discada.

E é isto que estamos a evitar, ainda que sob riscos de causarmos grandes tonturas e perturbações, a refutarmos o fetiche de adotarmos uma imagem, mesmo que seja ela até mais expressiva e representativa do que a imobilidade necrosada que sempre os analíticos pretenderam obter. A imagem atual está a contrastar ainda mais com a realidade, pois antes o pacato fluxo do antigo e renegado riacho mutante de Heráclito deu lugar a algo maior e passou a ser incomensuravelmente mais caudaloso e profundo, transmitido em direto em qualquer dispositivo com acesso à internet. É a vida em sua máxima expressão multicanal, a ocorrer, e sem nenhum monitoramento filosófico adequado à sua compreensão. A Filosofia aceitou o engessamento acadêmico, e foi sequestrada para dentro dos departamentos antiquados e empoeirados. E nunca mais foi vista por aí, pois não estão a pedir resgastes, pois talvez estejam a aguardam por respostas que acreditam que ela já possua, desde sempre. E o tempo está a passar, e seus carcereiros envelhecem, morrem, mas não sem antes treinarem seus sucessores, a reproduzirem o mesmo do mesmo.” Quais as propostas, então? (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XIV)

“O filósofo contemporâneo acredita que a Filosofia seja uma ciência! E quer adotar seus métodos. Não é ciência! A Filosofia é a ameaça à ciência, a predadora, a provocadora, aquela que está a fazer a ciência se mover, por medo de ser a próxima refeição. A função da Filosofia deixou de ser apenas a que responde, e passou a ser a que mais pergunta. A Ciência deve responder, todavia.

Sócrates seria também reprovado por se negar ao uso do Power Point, e até mesmo por não gostar de escrever artigos ou ensaios, e muitas outras formas estabelecidas pelo método de relegar as dinâmicas e potentes ideias a rascunhos decompostos da realidade imobilizada. Sócrates, no máximo, seria considerado como mais um “comunista” barbudo e malsucedido na vida. Afinal, quem quer o movimento, o caos, e a desordem? Tudo atualmente deve ser bem previsível e monótono, em tons pasteis e com música lounge. Sexo? Só de meias, sem nunca se expor por completo, sem nunca se desnudar.

E isso não recai em crítica negativa às pessoas, propriamente, pois estas fazem o que é preciso fazer pois precisam sobreviver e foram educadas para serem assim, por isso a crítica é para as instituições e suas relações, como um todo, que serão atacadas também, a seu devido tempo. Mas é verdade que as instituições são pessoas, mas há algo mais, pois neste caso o todo parece ser sempre maior do que a soma das suas partes. Além das pessoas, há os espíritos obsessores, que também estão nas instituições e que veremos quem são eles no decorrer deste livro.”  (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. I)

Um pouco do Calvin, um filósofo neocínico, com toda a certeza:

Calvin and Hobbes, pelo autor norte-americano Bill Watterson

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