glossário do esquema conceitual do possível serdual - objetificação

Objetificação

“Sim ou não: apenas estas duas decisões possíveis, sem chances nem sequer para um talvez, nem ao menos ocasionalmente. Surgirá, provavelmente, do progresso da estrutura a objetificação e o surgimento do homo algorithmus, oriundo do processo do reducionismo que terá imensa corroboração dos avanços tecnológicos, principalmente da inteligência artificial, que sempre deixará uma suposta margem para o humano pensar que é ele quem está a decidir sobre sua própria vida, enquanto está a ser manipulado pelas suas próprias crenças e desejos, em processo similar a uma hipnose.

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Sim ou não: eis as únicas escolhas prováveis para um futuro que não está tão distante assim. Mas, nada é tão ruim que não possa piorar ainda mais. Pois pode ser mesmo ainda pior e mais radical, ao supor que poderá existir outro cenário resultante ainda mais restritivo, mas até mesmo mais real, quando só se restará uma das opções, que será sempre o “sim”, como atribuir sempre este sim para tudo o que virá, sem nada poder negar ou nem resistir, nem mesmo criar o novo ou ter ou querer a ilusória liberdade dada pela astúcia do espírito diretor para apaziguar o ânimo da peça funcional que um dia foi o sujeito que pensava ser um agente autónomo de deliberação, em seus tempos felizes do passado.

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No limite, ao se perceber na mais completa absorção da individualidade que algum dia pensou ter, totalmente absorvido por um ente maior, externo, perceberá que deixou completamente de ser um sujeito – quando estará a dizer sim para tudo, até para a própria situação de objetificação. Saberá que passou a ser um mero objeto da estrutura, inerte, que não reconhece nada de si naquilo que se tornou um membro de um rebanho, um eficiente objeto funcional inserido e dirigido por uma estrutura dominante. Ou, ainda, nem se perceberá parte de nada, mas o próprio todo, quando a própria consciência se transforma, pela sua dissolução, no todo, sem se diferenciar de mais nada entre sua essência e a estrutura que se tornou. Tudo é possível, a cada perspetiva dada.

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Se algo assim lhe parece ser o verdadeiro inferno, não duvide de si. Mas é isto que é vendido como o melhor dos mundos por muitas das religiões e “filosofias” como o ápice da vida, que consiste na dissolução do eu, a partir de um ascetismo que afronta toda a intensidade de valor que só pode ser medido pela vontade de potência, que é a expressão corpórea do poder da própria vida, tal como Nietzsche buscou argumentar como todo ascetismo deveria ser indesejado, em sua genealogia da moral. Todos os simpatizantes do new age, do zen politicamente correto, querem buscar esta forma de transcendência sem saber o que significa exatamente.

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Esta integração do pós-sujeito ao todo é um objeto de desejo para a maioria, algo considerado cool, e não é incomum, ao menos para esta maioria desejante em não ter mais desejos, se submeter incondicionalmente às formas dominantes da ordem que existe, em nome de um imaginado “sucesso” transcendental. E é curiosamente esta mesma maioria corresponsável pela criação da estrutura para a qual se voluntariam viver em sacrifícios, e de sua manutenção, como veremos adiante. Criam seu próprio suplício, e o defende ferozmente enquanto se sacrificam por algo idealizado.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. V)

Objetificação: Conteúdo Protegido.

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