glossário do esquema conceitual do possível serdual - poder midiático

Poder Midiático

Afinal, pelo poder midiático, parece mesmo que estamos na era das réplicas, dos simulacros, em todos os sentidos. Pois, estes seres superiores, que estudaremos amiúde, se dizem ser (e a maioria acredita) os detentores das máximas possibilidades – mas que pouco ou nada do que possuem foi mesmo fruto de suas compras, pelos mesmo processos de se trabalhar, a partir de esforços e por competências especificas (a sério, a estudar ou a pegar no pesado, como a maioria) para ganharem seus dinheiros e, finalmente, comprarem eles mesmo este algo que estão a promover.

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Não é assim com eles, pois ganham algo de graça, ou até mesmo são pagos para que façam inveja nos outros que precisam pagar pelo que eles nada pagaram, nem pagariam, visto que não teriam dinheiro para fazê-lo, pois nada sabem fazer para além de fazerem inveja nos outros. E está tudo bem, e tudo isso é muito normal atualmente! As próprias mães desejam isto para os filhos. Muitas crianças recém-nascidas já possuem seus canais das redes sociais para suas futuras carreiras de influencers. Até mesmo os pets são influencers. Até mesmo estão a serem suscitados para cargos públicos, políticos e de representações diplomáticas. Aristóteles ficaria muito surpreso, se vivesse em nossos dias, a perceber que o modelo de seu motor imóvel é mesmo aplicável a tudo o que há, em relação ao humano desejante.

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Mas, subliminarmente, o que ocorre nestas projeções dos pais, em especial das mães, para seus filhos, já são indicadores dos valores projetados que são atribuídos aos influencers. Não é esperado que uma mãe deseje o mal para seus filhos, pelo contrário. E isso é axiomático. Ainda que uma ou outra mãe, por exemplo, possa ser exceção, a esmagadora maioria das mães, uma instituição ainda quase imaculada em nossa sociedade, não apenas defende com determinação seus filhos como também o acompanha até seus últimos instantes de vida, a desejar sempre o melhor e a fazer tudo o que lhe seja possível para o sucesso das suas eternas crianças. Factos!

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Como poderia que, desta forma, uma mãe desejasse que seus filhos fossem influencers? Pois há, nesta “profissão” ou “condição” uma atribuição de valores do que se considera ser o bem. E isto é muito claro, pois não só apenas os seguidores percebem isso, mas até as próprias mães que incentivam os filhos a seguirem este caminho. Os influencers sempre dão a impressão de terem um alto desempenho, bem em linha com a sociedade do cansaço de Byung-Chul Han, que leva o indivíduo a desejar mesmo isto: um alto desempenho.

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Mas, obviamente, não é porque haja o desejo de se fazer o bem para os filhos que realmente será o bem fruto de todas as ações das mães. Muitas destas mães também compram refrigerantes de cola para os filhos, oferecem frituras e coisas pouco saudáveis para eles, com a intenção de fazerem o bem para eles, mas sem atingir o objetivo proposto ao propiciarem inconscientemente uma dieta pobre em nutrientes e rica em riscos à saúde. Mas, há outras que podem ser nutricionistas, e fornecerem o melhor da culinária infantil. A questão verdadeira não é essa, mas sim sobre a dissonância entre o desejo e a realização, ou mesmo sobre o conceito exato do que seja mesmo o bem em si, na falida universalidade. Mas também sobre o poder.

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No Brasil, em relação ao poder midiático, há a discussão da exposição de muitas crianças à erotização precoce, muitas com menos de dez anos a serem expostas pelos pais ou com autorização destes, em vídeos musicais nas redes sociais a dançarem e/ou cantarem, em letras que mostram a vertente sexual de certos gêneros musicais, amplificados pelos figurinos sensuais.

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E isto se dá não por uma mente pervertida dos pais, ou uma indiferença, mas sim por que veem, ali, possibilidades para os filhos e para eles, uma forma de ultrapassarem a condição em que estão, de saírem das favelas para os melhores bairros, se elevarem na escala social. Pois, há um lamentável preço que a criança acabará por pagar, pela exposição a qual é submetida, que pode ser discutível, pois há quem argumente que não seja tão pernicioso assim, e que discordo, mas estes pais estão apenas a responder aos sinais prioritários da ordem estabelecida, a fazerem exatamente o que todos buscam nas possibilidades que se mostram.

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O problema está nas teias dos valores emaranhados deles, nas hierarquias subvertidas, que o desprovido de critérios passa apenas a enxergar o que emana mais atratividade: e isso é muito claro, atualmente, que aparecer na média é o melhor e o mais rápido caminho para o sucesso, seja lá o que signifique ter de fazer para “aparecer”. E é esta inconsciência de tal poder midiático que leva a tais absurdos, que nos deixa à beira das distopias das máximas ignorâncias.

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Para um artista ser contratado para um papel, por exemplo, consideram sua exposição na média, seu poder midiático de influência. Um jogador de futebol, idem, pois são contratados não apenas pelos seus talentos desportivos, mas também pela atratividade que seus números poderão captar de patrocinadores e compradores de produtos. Ter espaço na média é algo que garante o sucesso atual, motivo que muitos famosos passaram a se expor intimamente em troca dos valores de assinaturas pagas pelos que querem ver mais de suas perfeições corporais, de lugares que poucos conhecem de suas intimidades mais inacessíveis. O bem passou a ser mediático. Até mesmo a caridade, em essência discreta ao ponto de ser recomendado que uma mão não veja a outra que dá, passou a ser mediática, glamourosa e performática.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. VIII)

Poder Midiático: Conteúdo Protegido.

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