glossário do esquema conceitual do possível serdual - universalidade

Universalidade

Sobre a demolição do conceito da universalidade: “Os mesmos sujeitos do clube de sexo, do nosso exemplo anterior, se estivessem alocados em outras condições, por exemplo, supostamente em um grupo de leitura e estudos das obras do filósofo italiano Tomás de Aquino (1225 – 1274), se comportariam de forma bem distinta, pelo anticlímax teológico-filosófico, e o conjunto resultaria em algo totalmente diferente da libidinagem anterior, pelas condições transcendentes que passariam a ser, quando formado o grupo, totalmente imanentes. Isso se justifica tais quais as características alotrópicas dos elementos, quando um mesmo elemento, como o carbono, pode resultar tanto no grafite em dadas condições, quanto em outras, como quando o carbono resulta em diamante se arranjado de formas e em condições diferenciadas de temperatura e pressão.

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Para uns, o grafite é mais valioso, pois a partir dele poderá escrever (produzir uma imanência) suas histórias ou poemas, enquanto para outros, será o diamante, pois poderão se exibir melhor e, assim, tornarem-se mais atraentes (produzir uma transcendência) em suas fantasias. Uma mesma coisa com quantidades iguais de elementos (imanentes) mas em condições diferenciadas de energia, tempo e espaço torna-se completamente diferente como representação universal – e sem a universalidade tão sonhada a se manifestar como evidência de que exista algo comum e imutável em tudo o que há.

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Como é possível alguém querer ajuizar algo ao estar de fora da experiência com este algo? Chegamos ao ponto fulcral das crises antigas e das atuais.

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É justamente isto que os devotos da universalidade, fundamentalistas, puristas ou crentes desejam fazer. E isto é restringir a compreensão, e não ampliar, ao buscar uma universalidade, e não a restringi-la. A denúncia é que todos os processos de radicalização pejorativa da diferenciação, como a misoginia, a xenofobia, a transfobia, a homofobia, etc. tem por base, sempre, uma base universal de valores, de padrões e tudo o mais. Nunca dá certo e a diferença nunca será aceita.

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O mais impressionante é que os militantes do movimento politicamente-correto buscam os mesmos caminhos que os levaram a tais condições inadequadas, e tudo vira uma guerra, um combate fundamentalista em que cada um propõe instanciar a sua própria perspetiva como universalidade. E isso é péssimo, de forma geral, ainda que algo nisto tudo seja lícito e necessário de se brigar. Mas sempre teremos que a compreensão será sempre proporcional à perspetiva considerada. Por isso que a busca do todo deve ser percebida como infrutífera ou, no máximo, apenas mais um jogo dentre tantos que existem, nem sempre com bons propósitos, afinal.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. X)

… a universalidade

“Desde que há a discussão sobre o surgimento (ou criação) do Universo, todos os pensadores procuraram estabelecer quase que insanamente sua origem, mas também suas qualidades (ditas universais), em que estas sejam facilmente derivadas das possibilidades providas pelo próprio Universo. Para os pensadores, na contramão conceitual, são tais qualidades que definiriam e classificariam as possibilidades, e seria através delas que as explicações se tornariam viáveis de existirem, acerca das origens do próprio universo, sem se darem conta que estão em um loop conceitual viciado e sem fim.

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A própria ideia da criação, por exemplo, serve para tudo o que há no Universo e para ele próprio – conteúdo, forma e contendor. Mas se há o criado, haverá de se chegar a uma oposição final que o criou, que é o incriado, e, portanto, igualmente universal, mas que não é uma parte, mas sim o todo… e assim tudo se confunde e se contraria, e passa a ocorrer um ciclo frenético de tapar buracos conceituais que nunca chega a alguma saciedade conceitual com uma mínima estabilidade, quiçá bom senso. Mas, ainda assim, ainda hoje se busca a tal universalidade como uma última e desesperada esperança epistemológica.

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Se tal feito for possível de ocorrer, em qualquer lugar e tempo haveria de existir o que fosse estável, comum e sempre presente, tornando a tudo previsível e conhecido. São os predicados, afinal, que qualificam algo a que se referem. O que estará em causa é se estes predicados, estas tais procuradas qualidades, existiriam independentemente do sujeito ao qual se referem. Sejamos logo honestos, ao perceber que garantir que os predicados existam sempre, e dar vida ao que seja o universal, é reconhecidamente uma proposta que aquece a alma e tira do cenário quase todas as incertezas que habitam nossas mentes desde sempre, além de possibilitar maior celeridade aos processos de se conhecer tudo o que há. Bem isso.

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E pensar assim, significou que as tentativas que buscariam explicar como tais qualidades universais poderiam existir (para além das crenças e do conforto intelectual) ficaram em segundo plano, ou em plano nenhum, com praticamente todas as investigações teleológicas acerca da universalidade completamente desprezadas ao longo dos tempos, ainda que com um ou outro período de alguma movimentação teleológica coadjuvante, mas nunca no protagonismo. Assumimos assim, ainda que veladamente, a universalidade como possível, válida e real, ou seja, passamos a dotar a universalidade essencialmente possibilidade de um conceito imanente de universalidade, dada como oportunidade, como um meio de se atingir o conhecimento. Ela deixou de ser uma resultante e passou a ser um ingrediente.” (em O Guia Cínico e Selvagem dos Jogos da Vida, Cap. XIII)

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