O Esquema Conceitual do Possível

Uma brevíssima introdução

O que é o possível?

o possível e sua disformidade

O possível é tudo o que você conhece somado a tudo o que poderá conhecer, ser e estar, mas que ainda não lhe será suficiente. O possível é a zona da consciência realizada mas profundamente pretensiosa. O Esquema Conceitual do Possível é a teoria que dá a base a tais argumentações.

Ele não é universal, mas meramente individual, pois é uma perspetiva – e nada mais do que isso. Se há um universo, este é o possível, e limitado a cada perspetiva que se faça, redundantemente, possível.

Não antagoniza com o impossível, pois este permeia por todo o possível, e este é apenas a parte conhecida do impossível, e por isso sentimos todos as impossibilidades bem próximas, a nos envolver.

Ele é a ínfima parte do caos que pudemos ordenar com imensos esforços, a superar de alguma forma o impossível e a nos dar uma falsa impressão de o termos dominado ou decifrado, que é a nossa verdadeira intenção, desde sempre, pois assim percebemos ter atingido o que consideramos ser o bem.

É, portanto, a nossa organização existencial: é tudo o que apreendemos, que conhecemos, que nomeamos, que compartilhamos entre nós pela linguagem, que definimos e damos valores a partir dos acontecimentos ocorridos.

Como o possível não está separado do impossível, e sim completamente inserido neste, mesmo dentre tantas operações que realizamos de construção e manutenção do possível, algumas vezes surgem fissuras ou brechas que nos coloca em contato com o impossível, e é quando nos surgem os estranhamentos da vida que logo nos levam aos questionamentos dos “problemas” existenciais.

E há o impossível…

O impossível é a realidade do real, aquela que nos angustia, nos afugenta e nos amedronta. Criamos o possível para evitar o impossível. E, no possível, criamos tantas coisas que nos fazem distrair e nos deixam anestesiados do que realmente somos. Pois todo este processo criativo coletivo e hereditário muitas das vezes falha, e nos surgem as tais brechas ou fissuras que nos expõem ao caos do impossível. E quando isto o que ocorre percebemos os nossos abismos existenciais entre tais dimensões – quando surgem as nossas crises e as nossas maiores vulnerabilidades existenciais.

Não somos capazes de lidarmos com o impossível, mas podemos chegar bem mais perto de nos libertarmos de seus efeitos nocivos sobre nós ao compreendermo-nos a nós mesmos, e principalmente ao descobrirmos a nossa posição existencial – o ponto de partida desta autodescoberta.

Simples assim, mas nada disso é fácil de percebermos imediatamente à primeira impressão. E esta pode ser a sua dificuldade agora, ao achar tudo confuso ou até sentir medo de adentrar a esta área do conhecimento de si mesmo. Mas é coerente, pois construir tudo isso foi para não termos de lidar com o caos que agora precisamos lidar. Mas, toda criança cresce, e certos assuntos que antes lhe eram escondidos se tornam necessários de serem experienciados. Somos todos crianças que estamos a crescer e é chegado o nosso momento de tratarmos de assuntos realmente sérios. Este é o nosso tempo, de uma minoria em crise que precisa a aprender a lidar com a verdade das questões da maturidade. Você não está aqui por acaso, afinal.

As conclusões são muitas.

Por isso, para que possamos perceber didaticamente como tudo isto funciona, adotamos aqui um esquema conceitual que criamos e que explica em detalhes este possível. É um esquema que serve tanto para um indivíduo – para você, como para as estruturas às quais você pertence. Pois, a bem da verdade que logo descobrirá em nossos argumentos, não somos mesmo indivíduos autônomos, mas sim parte de uma estrutura. Somos causa e efeito, simultaneamente, e desde sempre.

Isto é o possível – aquilo que é por não ser. E assim começaremos nossos estudos.

Quais os fundamentos teóricos nO Esquema Conceitual do Possível?

Perspetiva 6 e 9

Todos os fundamentos teóricos do esquema conceitual do possível estão filosoficamente construídos e apresentados, em detalhes, no livro «O Guia Cínico e Obsceno dos Jogos da Vida». A partir de construções realizadas com base nos mais reconhecidos conceitos filosóficos e psicológicos existentes. E muitos destes que antes eram aparentemente antagônicos foram todos conectados dentro do modelo do possível para darem sentido ao todo existencial. E não apenas um sentido parcial às partes, como tem sido mais comum na Filosofia.

O maior feito do modelo do possível, à partida, é este: oferecer a visão pragmática da perspetiva. E, por isso, cada um dos filósofos pode ser colocado dentro deste modelo a partir de sua perspetiva. É como se estivessem todos os filosofos a debaterem sobre a mesma coisa, mas apenas a considerarem uma parte distinta do existente. É como o velho meme da figura, em que um afirma que a imagem é um seis, enquanto a imagem para o outro é um nove. Grosso modo, é isso que é exigido do modelo: explicar a ilusão da universalidade e afirmar a perspetiva como a única base conceitual verdadeiramente produtiva.

Foi preciso um modelo do possível…

Chegar a um modelo do possível tem sido um trabalho de quase toda uma vida, realizado pelo filósofo Leandro Ortolan. A partir de seus próprios questionamentos sobre a vida e que o levou a uma profunda observação da existência. Academicamente, também promove uma crítica positiva de como as Ciências das Humanidades têm se desenvolvido de forma insuficiente face os tempos que vivemos, de imensas transformações. Pois tais Ciências ainda são incapazes de responderem a muitas das questões que nos afligem existencialmente, seja enquanto indivíduos, seja enquanto sociedades.

O problema-raiz, argumenta Ortolan com uma inspiração bergsoniana: “sempre foi não considerar o movimento de tudo, mas sim buscar analisar apenas o indivíduo, enquanto se analisava apenas a sociedade, ou apenas o mundo, e não o todo, integrado e dinamicamente interativo”. O esquema conceitual do possível opera com a dinâmica, o movimento e a fluidez. Por isso, é tão eficaz em nos fazer perceber mais sobre tudo o que há, e sobre tudo o que é, obviamente, possível de se perceber.

Assim, apenas para considerar um modelo que possa ser compreensível didaticamente, o possível é apresentado como um conjunto de camadas formado por esferas concêntricas, de diferentes tamanhos, na qual a menor é a mais densa ou imanente e a maior é a mais sutil ou transcendente. Gradações, como camadas distintas entre si, mas que na prática se fundem como uma – tal como percebemos o mundo. Para além destas esferas, há a representação de uma última – mas que não é mesmo uma esfera, pois não possuímos contato com ela – pois “é” o impossível, que permeia a todo possível e “vai” para muito além dele, e para muito além do nossa esquema.

Didaticamente, como é o esquema conceitual do possível?

Das “menores” para as “maiores”, as três esferas imanentes – materiais e linguisticamente sensíveis e escrituráveis:

1ª esfera – a moral – são os valores definidos e duais mais profundos e fechados que temos em nós. Como por exemplo o bem e o mal, o certo e o errado, o belo e o feio etc. Valores apreendidos e construídos a partir dos relacionamentos, da linguagem, da educação formal e informal. E também em todas as convenções que existem na estrutura na qual o indivíduo esteja inserido. Como as convenções culturais, religiosas, políticas, sociais, artísticas, de construções de gêneros, “raciais”, territoriais, etc;

2ª esfera – os representantes / relacionamentos – todas as relações são basicamente oriundas das funções estratégicas de perpetuação e afirmação da vida – assim garantimos a nossa presença, que é estarmos vivos. Relacionamo-nos para mantermo-nos (a todos) bem (que já é uma ação oriunda de um valor moral que trazemos da primeira esfera). Mas também para nos afirmarmos como existentes (indivíduos, psicologicamente diferenciados e supostamente autônomos). Relações são, portanto, sempre baseadas em alguma instância de poder.

Uma das partes acaba por dominar a outra e, por isso, uma destas partes passa a representar algum tipo de autoridade baseada em algumas regras adotadas nos relacionamento (que estarão na próxima esfera), mesmo que sejam regras simples, informalmente subentendidas ou mesmo impercetíveis, mas sempre existem regras em todos os relacionamentos;

3ª esfera – as regras – que não existem apenas por existir, pois não vieram do “nada”, mas sim pela preexistência e necessidade das relações, ao originarem conflitos e a exigirem meios para se estabelecer uma ordem viável entre todos os que compartilham relacionalmente do possível, e isto significa que foi e é necessário coibir as vulnerabilidades individuais e coletivas oriundas dos relacionamentos, principalmente a partir das diferenças percebidas entre os indivíduos, que fazem ser necessárias novas criações conceituais como, por exemplo, a justiça;

Abaixo, a esfera transitória – entre a imanência e a transcendência

4ª esfera – os modos existenciais – há o modo de ser, que representa a presença em vida e uma suposta essência moral de cada um, que são a expressão consolidada na pessoalidade de seus próprios valores e que assim oferece uma perspetiva própria dos limites sensíveis individuais; e há o modo de existir, que representa o que este projeta para o mundo, que é a sua própria existência percebida para si e para a estrutura na qual esteja inserido, ou melhor, alocado interactivamente; Entre estes modos, há sempre alguma separação que origina uma brecha ou fissura nas quais se dá o que é percebido como o abismo.

E, finalmente, as três esferas “maiores” transcendentes e puramente semânticas, completamente inseridas na linguagem com significações valoradas:

5ª esfera – o marketing ideológico – que são as oportunidades expostas como possibilidades. Assim promovidas e oferecidas pelas teias de relações que existem no mundo, e de acordo com as ideologias mais dominantes que existem. O marketing é o que faz a todos ficarem mais aderentes à estrutura, pois é o que promete, que cria demandas e que faz a todos cumprirem com as regras e com o que seja esperado ser feito como parte do esforço de atingirem o que está para além de si.

O marketing é o excitador existencial mais poderoso que existe, que faz aumentar a potência de cada um para que surja a ilusão de que tudo possa ser realizado para que todos possam, afinal, estarem em ato através de algo que é oferecido como meio e fim, mas sem nunca ninguém chegar a um limite de saciedade através do marketing, visto que este é sempre de natureza continuamente expansiva e predatória;

6ª esfera – a ideologia – uma dimensão individual e coletiva quase impercetível e que possui mecanismos para que seja mesmo assim: impercetível. A ideologia representa tudo o que já foi intencionalmente vislumbrado, conhecido, percebido e nomeado – mesmo que exista apenas conceitualmente, é ideologizado da mesma forma e pertence a esta dimensão. Como cada um é limitado pela sua própria perspetiva individual, então a ideologia passa a representar o tamanho do “universo” de cada um possui para si, a diferirem elas mesmas as individualidades, logo à partida;

E, por fim…

7ª “esfera” – o real – o impossível, que é todo o resto, para além da ideologia. Por não ser e nem poder ser conhecido, não pode ser limitado e, a bem da verdade, nem mesmo podemos considerá-lo como uma esfera, propriamente. É o caos, completamente inacessível e impenetrável, mas que mesmo assim é a direção para a qual nos dirigimos alucinadamente, para expandir a nossa dimensão do possível e também para apreender algo que não compreendemos ainda, mas que mesmo assim desejamos expandir e domar, até mesmo contra a nossa própria razão. Este caos pode facilmente nos atingir de forma impactante pelas fissuras ideológicas que temos em nossas frágeis criações ideológicas. É contra o caos a nossa maior demanda existencial.

Qual a importância do esquema do possível?

É a partir do esquema do possível que perceberemos as dinâmicas da nossa própria existência. E, ao percebermos tais dinâmicas, passamos a compreender melhor a nós mesmos, e ao mundo, como um todo.

Nós somos estudados como estruturas, mas não independentes ou individuais como julgamos ser. Passamos a nos perceber como interconectados em teias de relações que configuram o possível, que é nossa criação mais importante. E para qual nossas vidas são totalmente direcionadas, ainda que não nos demos conta disso. É essa perceção que nos será tão valiosa e se dará através deste esquema conceitual do possível. Feito para uma compreensão didática da existência e das formas de pensamento filosófico desde os tempos iniciais que passamos a questionar os nossos próprios propósitos de vida. Até hoje ainda não percebermos que tais questionamentos já eram e ainda são funções externas a nós próprios.

Sem as mentiras e ilusões, podemos perceber não apenas o que somos, mas principalmente o que podemos vir a ser. Pois o modelo não é sobre o que se é, como algo parado e definitivo – mas sim sobre as possibilidades, sobre o movimento. E por isso é tão valioso a quem busca conhecer mais sobre a própria existência de forma a transformá-la para algo que julga ser o melhor para si. E isto é sobre relacionar-se consigo mesmo.

Não há limites…

Mas, o esquema conceitual é muito mais do que isso, pois também permite se perceber alocado dentro da estrutura social. E perceber qual a sua posição atual no jogo da vida – que chamamos de alocação existencial. Assim, a individualidade e a sociedade passam a serem igualmente importantes e interconectadas, como devem ser. Pois instanciam os modos de ser e de existir, respetivamente.

Entre o modo de ser e o de existir, há o abismo – a origem e o destino do possível. E este é o ponto obscuro que nos é indesejado que passa a ser suprido por elementos mais sofisticados da existência. Aprender a lidar com este abismo é garantir uma boa qualidade existencial, mais conhecida como “uma boa vida”, o que todos buscam, mas sem saber bem o que seja isso, ainda. Por isso, a boa vida não é sobre realizações, mas sim sobre uma boa gestão da impossibilidade de tais realizações. É sobre tornar a constante da insaciedade acerca do possível em uma variável acerca do impossível, antes de tudo.

Eis uma das muitas possibilidades do esquema conceitual do possível, pois existem tantas outras que ainda não foram citadas, mas que logo serão, construtivamente.

Nos esquemas desta página estão as representações didáticas das estruturas do possível, todas estudadas em nossos conteúdos mais avançados – nos escritos ou nos diversos cursos e encontros online que temos.

O possível é dinâmico, disforme e profundamente instável...
Estrutura do Possível Disforme - Vetor
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